Chamada frequentemente de cotovelo do tenista, a epicondilite é uma inflamação da ligação entre o osso e o tendão do cotovelo que pode afetar praticantes de outros desportos e trabalhadores de várias profissões. Por ser “uma dor muito incómoda”, que afeta “a força e destreza do membro superior, o seu tratamento deve ser eficaz”, sustenta Paulo Amado, médico especialista em Ortopedia e Coordenador da Unidade de Medicina Desportiva e Artroscopia Avançada do Hospital Lusíadas Porto.
O que é a epicondilite
O nome epicondilite está relacionado com os côndilos. Neste caso, aos côndilos do úmero, o osso do braço que liga o ombro ao cotovelo. Na região do cotovelo, o úmero termina com dois côndilos, que são protuberâncias ósseas, uma interna e outra externa. É o côndilo externo, ou epicôndilo, que está associado à epicondilite.
Ao epicôndilo ligam-se vários músculos do antebraço através de tendões. A epicondilite é uma inflamação da região que liga aqueles tendões ao epicôndilo, ou seja, ao osso. “Estes tendões têm uma função principal na extensão do punho e dedos, o que leva a prever que atividades profissionais ou desportivas que impliquem este movimento repetidamente levem a uma inflamação na inserção dos tendões”, explica Paulo Amado.
O braço dominante costuma ser o mais afetado. Apesar disso, a epicondilite pode surgir nos dois braços, mas a intensidade da inflamação nunca é igual nos dois, adianta Paulo Amado.
Atividades de risco
A doença está muito associada ao ténis devido ao tipo de movimento do braço que este desporto exige. “O movimento de rotação do antebraço em extensão do punho que está sobre tensão muscular leva a uma inflamação dos tendões”, diz o especialista, descrevendo o movimento feito pelos jogadores de ténis. Mas, “vários desportos podem originar esta patologia frequente”, refere. O squash, o ténis de mesa e o badminton são alguns deles.
Por outro lado, “atividades profissionais que impliquem gestos parecidos com o gesto desportivo anteriormente descrito, podem dar origem à mesma patologia”, acrescenta Paulo Amado. Carpinteiros, canalizadores, pintores, cozinheiros, talhantes têm maior probabilidade de desenvolver esta doença do que o resto da população.
Sintomas e diagnóstico
O sintoma mais importante causado pela epicondilite é uma dor provocada pela inflamação “na face externa do cotovelo”, diz o médico, especificando que esta dor se insere sobre o epicôndilo e irradia para a extremidade do osso rádio junto ao cotovelo (o rádio é um dos dois ossos do antebraço, o outro é o cúbito). “Os tendões são afetados em conjunto, podendo a dor variar de intensidade”, sublinha Paulo Amado.
Além da dor, pode surgir uma sensação de ardor e, dependendo da gravidade da inflamação, a área afetada pode ficar vermelha, quente e inchada. O doente pode sentir falta de força naquele braço. Atividades que façam uso do braço com a epicondilite agravam o episódio.
A partir destas queixas, o diagnóstico é feito a nível clínico. O médico pode recorrer à ecografia e, em certos casos, à ressonância magnética.
Tratamentos
O tratamento da epicondilite passa, numa primeira instância, pelo repouso do braço. A pessoa tem de parar de fazer a atividade regular que deu origem ao problema. A aplicação de gelo no cotovelo, a medicação anti-inflamatória e a fisioterapia são alguns dos métodos para combater a inflamação.
No entanto, Paulo Amado sublinha que há dois tratamentos realmente eficazes. Uma das técnicas passa pela infiltração peritendinosa de um corticoide. Esta infiltração é uma injeção desta substância diretamente na articulação e que trata a inflamação.
Além de corticoides, os médicos têm usado mais recentemente o colagénio e o plasma rico em plaquetas. “O colagénio é um produto natural aplicado por infiltração com propriedades de remodelação tecidular nos tecidos ricos em colagénio, tal como os tendões, os músculos e as fascias”, explica o especialista.
Já o plasma rico em plaquetas é um tratamento regenerativo ainda em estudo, em que se retira o sangue do doente e, a partir dele, produz-se este plasma que “tem propriedades anti-inflamatórias, de reconstrução e renovação tecidular”, adianta Paulo Amado.
Outro tratamento eficaz são as ondas de choque produzidas por um aparelho de ondas radiais e focais que, segundo o especialista, “tem sido muito útil no tratamento desta patologia”.
“Em regra estes tratamentos levam a uma cura de 95% dos casos”, afirma Paulo Amado. Nos casos raros em que não há cura, os médicos recorrem à cirurgia.
“Quando há tratamento cirúrgico, a técnica pode consistir numa intervenção pouco invasiva utilizando radiofrequência ou mesmo uma pequena desinserção tendinosa, com libertação dos tendões”, explica o especialista. Ao retirar o tecido do tendão que já sofreu um processo de fibrose, a cirurgia pretende aliviar a retração do tendão.
Paulo Amado refere ainda que o doente, depois de estar curado, pode voltar a ter um episódio de epicondilite, obrigando a novo tratamento. Há casos ainda em que a doença pode evoluir para uma situação crónica.
Em suma
A epicondilite é uma inflamação que afeta a ligação entre os tendões e o côndilo externo do úmero, desenvolvida normalmente pela repetição de um movimento de rotação do antebraço comum em certos desportos e profissões. No entanto, há tratamentos eficazes que curam esta inflamação. Em último caso, os doentes podem ter de realizar uma cirurgia.
Referência: www.lusiadas.pt/blog